quarta-feira, 30 de outubro de 2013

UMA SIMPLES HISTÓRIA

UMA SIMPLES HISTÓRIA
    (prisão domiciliaria)


Era uma vez, uma grande, grande amiga. Foi ela que me contou esta história. Já há alguns dias que não nos falamos, isto neste momento, e para o caso, não é o mais importante.
Importante é como uma mulher, “mulher”, fica presa em casa, ao que eu chamei “prisão domiciliária”.
Não é por enquanto uma situação trágica, mas prova o que pode acontecer a qualquer ser humano, que levou uma vida normal, decente, com alguma qualidade de vida, e muita dignidade.
Honestidade e amor ao próximo, manifestou-se sempre de várias maneiras, tanto aos amigos como à família, e a quem lhe pedisse ajuda, houve sempre uma palavra amiga e de esperança.
Passaram os anos e foi ficando adoentada, mas isso não foi o pior, os problemas começaram quando ficou desempregada, sujeita à esmola do estado, chamada fundo desemprego, o qual um dia acabou. Quem ia arranjar emprego a uma fulana de 40 e tal anos, quando tantos jovens estavam como ela e a crise, essa não tinha soluções.
Perante este cenário aquela que esteve disposta e colaborante perante os outros, viu-se sozinha, afastou-se das amigas, pois não queria que elas vissem o seu olhar triste, tinha vergonha de contar a sua vida, até das vizinhas fugia, chegando ao cumulo de despejar o lixo, já muito de noite.
Era triste, não ter dinheiro, nem para um café, para um jornal, optando por ler o tele texto da TV. O telemóvel esse estava mudo, quem não aparece esquece, ninguém lhe telefonava.
Um dia olhou-se ao espelho, o cabelo por pintar, mal tratado, era ela que o cortava, só uma coisa ela não deixou de fazer, foi tomar os seus banhos diários, e usar sempre um creme, mesmo que fosse dos mais baratos.
Dia a dia a sua saúde foi piorando e a vontade de comunicar, era nula. Olhar as lojas para quê, tudo lhe estava interdito.
É claro que há muitas e muitas situações, que prefiro não mencionar.
A pior provação desta mulher, é ter consciência de como vai o Mundo lá fora, sofre pela sua limitação a 4 paredes, mas não se perdoa por ter descoberto que é um ser extremamente egoísta, pois só tem olhado para o seu umbigo.
Devia de ter perguntado mais vezes: -E AS CRIANÇAS SENHOR ?.
A ultima vez que estivemos juntas choramos perguntando-nos porquê?.
Ela ainda espera por um amanhã melhor, mas para quem sabe somar dois e dois, não há duvida, a lucidez ainda faz sofrer muito mais.
Pergunto é egoísmo ?


P.S: este é um simples relato, de uma história que daria um livro cheio de exemplos de vida, que talvez eu um dia tenha coragem para partilhar convosco.


Carmita/Out/2013


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