(prisão domiciliaria)
Era
uma vez, uma grande, grande amiga. Foi ela que me contou esta história.
Já há alguns dias que não nos falamos, isto neste momento, e para o
caso, não é o mais importante.
Importante é como uma mulher, “mulher”, fica presa em casa, ao que eu chamei “prisão domiciliária”.
Não
é por enquanto uma situação trágica, mas prova o que pode acontecer a
qualquer ser humano, que levou uma vida normal, decente, com alguma
qualidade de vida, e muita dignidade.
Honestidade
e amor ao próximo, manifestou-se sempre de várias maneiras, tanto aos
amigos como à família, e a quem lhe pedisse ajuda, houve sempre uma
palavra amiga e de esperança.
Passaram
os anos e foi ficando adoentada, mas isso não foi o pior, os problemas
começaram quando ficou desempregada, sujeita à esmola do estado, chamada
fundo desemprego, o qual um dia acabou. Quem ia arranjar emprego a uma
fulana de 40 e tal anos, quando tantos jovens estavam como ela e a crise, essa não tinha
soluções.
Perante
este cenário aquela que esteve disposta e colaborante perante os
outros, viu-se sozinha, afastou-se das amigas, pois não queria que elas
vissem o seu olhar triste, tinha vergonha de contar a sua vida, até das
vizinhas fugia, chegando ao cumulo de despejar o lixo, já muito de
noite.
Era
triste, não ter dinheiro, nem para um café, para um jornal, optando por
ler o tele texto da TV. O telemóvel esse estava mudo, quem não aparece
esquece, ninguém lhe telefonava.
Um
dia olhou-se ao espelho, o cabelo por pintar, mal tratado, era ela que o
cortava, só uma coisa ela não deixou de fazer, foi tomar os seus banhos
diários, e usar sempre um creme, mesmo que fosse dos mais baratos.
Dia a dia a sua saúde foi piorando e a vontade de comunicar, era nula. Olhar as lojas para quê, tudo lhe estava interdito.
É claro que há muitas e muitas situações, que prefiro não mencionar.
A
pior provação desta mulher, é ter consciência de como vai o Mundo lá
fora, sofre pela sua limitação a 4 paredes, mas não se perdoa por ter
descoberto que é um ser extremamente egoísta, pois só tem olhado para o
seu umbigo.
Devia de ter perguntado mais vezes: -E AS CRIANÇAS SENHOR ?.
A ultima vez que estivemos juntas choramos perguntando-nos porquê?.
Ela ainda espera por um amanhã melhor, mas para quem sabe somar dois e dois, não há duvida, a lucidez ainda faz sofrer muito mais.
Pergunto é egoísmo ?
P.S:
este é um simples relato, de uma história que daria um livro cheio de
exemplos de vida, que talvez eu um dia tenha coragem para partilhar
convosco.
Carmita/Out/2013
Carmita/Out/2013
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