Era uma vez uma família, que vivia nos arredores de Lisboa, à beira de um rio.
A
mãe da avozinha tinha um “negócio”, lavava roupa das senhoras de
Lisboa. Tudo isto se passava, entre ir a Lisboa, buscar a roupa numa
carroça, lavar a roupa no rio e voltar a entregar.
Lavava-se
a roupa de joelhos, numa joalheira, que era de madeira, e havia uma
pedra larga e lisa, meio dentro de água, era aí que a roupa era
esfregada, com sabão azul e branco creio eu, que era o único naquela
época. Todas as mulheres, ou sejam as mais novas, juntavam-se ali para
lavar a roupa e ao mesmo tempo iam tagarelando e cantando.
A
minha avozinha uma vez por semana com as suas vizinhas e amigas, ia
levar a roupa, passando pela mata do estádio nacional, por caminhos
centenários, desembocando numa “estrada” lá para os lados do Dafundo.
Semana após semana , ano após ano, a avozinha lá ia, até que casou com o
avô Policarpo.
Mariana,
assim se chamava a avozinha, e Policarpo tiveram três filhos. O meu pai
era o filho era o mais novo. Com o passar dos tempos e com a idade a avozinha
foi ficando debilitada e doente.
O
que mais recordo desta relação avó netos, entre muitas situações, de
piqueniques passeios idas ao teatro etc., o que mais me marcou, foram as
histórias intermináveis que ela nos contava. A minha avozinha tinha o
dom da palavra, e aquele jeito que nem todos temos da interpretação.
Muitas vezes, ou quase sempre chamava-nos, sobretudo quando ia descansar, para nos contar histórias, era uma atrás da outra e nós sempre a pedir, conte a do rato, a da princesa, a da bruxa má e por aí adiante Um dia ou ela estava mais cansada, ou realmente com sono, a meio de uma história, começou a dizer:
-e
depois, e depois…e nós que estávamos a ver que ela não acabava,
começamos, Avó! Avó! Ela acorda de repente e diz: - depois, depois lá
foi aquela porra toda, gargalhada geral, avozinha desatou a rir e nós
nunca lhe dissemos o porquê de tanta risota.
Os ouvintes eram três , eu o meu irmão e o meu primo.
Foram
momentos marcantes ,e de muita felicidade, tanto que quando tive os
meus filhos, comprei uma enciclopédia para crianças, que se chamava
“histórias de todo o mundo”, eram os contos da avozinha, li-as aos meus
filhos, tentando transmitir a magia, que eu encontrara. Hoje estou
preparada para um dia ser avozinha e dar magia e alegria aos meus netos,
como eu a recebi.
Xtórias da carmita/Julho 2009-07-10
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